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  • Foto do escritorFelipe Schadt

O efeito Dunning-Kruger na luta Popó-Bambam


(Foto: Mariana Lima/FMS)

> Foram 36 segundos. Apenas 36 segundos que separaram o início da luta entre Acelino Popó Freitas e Kleber Bambam ao seu desfecho nada surpreendente. Também, o que esperar de uma peleja entre um tetra campeão mundial de boxe contra um ex-BBB que nunca subiu em um ringue na vida?


Mas a bem da verdade, a luta começou muito antes desses 36 segundos. Foi em junho de 2023, quando Bambam soltou o desafio a Popó após os dois trocarem rusgas nas redes sociais. A partir desse momento, o campeão da primeira edição do Big Brother Brasil iniciou uma série de provocações recheadas de soberba e arrogância contra o pugilista. E o que todo mundo se perguntava era: "como alguém que nunca vestiu um par de luvas de boxe pode se sentir tão confiante contra um super-campeão desse esporte?".


Quem pode dar essa resposta são os psicólogos estadunidenses, David Dunning e Justin Kruger. Segundo seus estudos, a ignorância de uma pessoa sobre determinado assunto pode ser tão grande que isso a faz se sentir capaz de dominar o assunto que nada sabe. O exemplo mais famoso do efeito Dunning-Kruger é o do ladrão e os limões.


Em 1995, o assaltante de banco McArthur Wheeler resolveu passar suco de limão no rosto antes de entrar em dois bancos de Pittsburgh e assaltá-los. Ele fez isso porque acreditava piamente que as câmeras de segurança não conseguiriam identificar seu rosto por causa das propriedades do suco de limão. Trocando em miúdos, ele achou que o limão deixaria seu rosto invisível para o sistema de monitoramento. O detalhe é que o assaltante - que foi preso na sequência - não sabia absolutamente nada de química ou de física para tirar essa conclusão absurda.


Outro caso que ficou muito famoso e, por ter acontecido na era das redes sociais, viralizou na internet, foi o da idosa espanhola Cecília Gimenez que em 2012, com então 80 anos, resolveu restaurar por conta própria uma pintura do século XIX. O problema é que ela não sabia pintar e acabou estragando a obra “Ecce Homo”, uma representação de Jesus Cristo de autoria de Elías García Martínez.




E agora temos nossa versão brasileira mais famosa - por enquanto - desse efeito. Kleber Bambam desafiou para uma luta de boxe um tetra campeão do esporte. Tomou uma surra e durou apenas 36 segundos no ringue. E assim como o assaltante McArthur Wheeler e a idosa Cecília Gimenez, Bambam tinha zero conhecimento sobre o que se propôs a fazer e se apoiou na autoconfiança oriunda da ignorância plena.


Agora faça um exercício mental e troque Popó versus Bambam por um cientista que estudou a vida inteira sobre microorganismos e vacinas versus um sujeito que nunca olhou por um microscópio que insiste que vacinas não funcionam; ou por um professor de história e geopolítica versus uma pessoa que nunca ouviu falar sobre Canaã e acha que tem a solução para o conflito Israel e Palestina; ou quem sabe um profissional do ramo do entretenimento versus você que nunca chegou perto de uma emissora de televisão e que acha que sabe como ganhar dinheiro com o show business.


E aqui que vem o pulo do gato.


Se você realmente achou que Bambam foi o perdedor dessa luta e o menosprezou por fazer papel de ridículo nas redes com suas provocações e autoconfiança, sinto lhe dizer mas você também está sob o efeito Dunning-Kruger. O ex-BBB pode ser um apedeuta na nobre arte do boxe, mas é bastante inteligente quando o assunto é entretenimento.

Segundo matéria da ESPN que saiu logo após a luta, Bambam havia faturado três vezes mais o prêmio que ganhou como campeão do Big Brother Brasil, sem contar os inúmeros patrocínios que ele conseguiu para essa luta.


Durante meses, o especialista em entretenimento, gerou no público - até mesmo naquele que não se interessa por boxe - uma curiosidade quase que lasciva pela luta entre ele e Popó. Todo mundo queria ver ele apanhar. Claro! Ele estava menosprezando um dos maiores esportistas brasileiros de todos os tempos. Isso nos gerou uma "raiva" de Bambam e uma sede de "justiça" que só as luvas do nosso tetra campeão mundial de boxe poderiam nos dar. É o mesmo sentimento de quem ouviu Pablo Marçal menosprezar Ayrton Senna, por exemplo. "Quem é você para falar do nosso ídolo?".


Surfando nesse sentimento coletivo, Bambam angariou muita publicidade para a luta e, consequentemente, muito dinheiro para ele, seus patrocinadores, para a Globo e o Canal Combate e também para seu adversário. Todo mundo ganhou. E prova disso é um vídeo que ele soltou em suas redes rindo e abraçando seu oponente que, durante meses, nutria - e fez nutrir - quase um ódio mortal por ele. Isso deixa mais claro que tudo não passou de um grande show, coisa que só um especialista em entretenimento pode proporcionar.


Claro que Bambam não inventou isso. Ele pode ser inteligente, mas não é genial. Essa prática de "resolver as diferenças" no ringue como um show é antiga, mas na era das redes sociais ganhou força com os irmãos Jake e Logan Paul nos EUA.


O mais interessante é que Kleber Bambam, em suas entrevistas cheias de provocações, deixava claro que respeitava a história de Popó, mas que ele também tinha um legado importante: "Eu fui campeão do BBB, participei de programas como o Pânico, Zorra Total e trabalhei com Tom Cavalcanti e com o Renato Aragão, o maior comediante do Brasil". Ninguém notou que ele estava deixando claro que sua expertise era o entretenimento.


A luta durou 36 segundos. Apenas 36 segundos! O que no mundo da internet é o tempo perfeito. Sua luta com Popó cabe em um Story, um Reels, um vídeo do Tik Tok, ou seja, altamente viralizável. Não sei se foi de propósito, mas caiu como uma luva.

Bambam não foi burro ao desafiar Popó, mas talvez nós tenhamos sido bem ignorantes em achar que ele não sabia o que estava fazendo.


Conhecimento é conquista.

-FS



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