top of page
  • Foto do escritorFelipe Schadt

Nada menos do que a liberdade!


(Imagem: Cristiano Siqueira, "Cris Vector")

> Segundo o relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras, feito em 2021, o Brasil é um dos países mais violentos para os profissionais de imprensa. Só entre 1995 e 2018, um outro relatório, desta vez feito pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), informa que 64 jornalistas, profissionais de imprensa e comunicadores foram mortos no exercício da profissão no nosso país. No início do mês (6 de junho), um jornalista inglês colaborador do The Guardian, Dom Phillips, que fazia uma série de reportagens sobre a Amazônia, desapareceu junto com o ex-funcionário da Funai, Bruno Araújo. Os dois foram encontrados mortos.


Esse clima inóspito para profissionais de imprensa no Brasil se intensificou durante o governo Bolsonaro. Não foram poucas as vezes que vimos o presidente da república tratar jornalistas de maneira hostil, inflamando seus seguidores a fazerem o mesmo. Basta entrar em qualquer rede social de qualquer jornal do país e observar como o discurso de ódio está presente nos comentários das notícias postadas. Sobre o jornalista inglês e o ex-funcionário da Funai assassinados na Amazônia, Bolsonaro disse em entrevista ao SBT que a culpa é dos dois.



Além disso, precisamos conviver com os sigilos impostos pelo presidente sobre os assuntos "espinhosos" em seu governo, como por exemplo informações sobre os crachás de acesso ao Palácio do Planalto, informações sobre o seu cartão de vacinação, informações sobre o processo interno que apurou a presença do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello — quando este ainda era general da ativa — a um ato político no Rio de Janeiro com apoiadores de Bolsonaro e mais recentemente, informações sobre encontros entre o Jair Bolsonaro e pastores lobistas, como Gilmar Santos e Arilton Moura (os dois são suspeitos de terem pedido ao presidente liberação de recursos do Ministério da Educação para prefeituras com as quais estavam comprometidos politicamente).


Para muitos, um atestado de culpa. "É o crime ou o creme, se não deve não teme", diria os Racionais MC's. Mas por trás de tudo isso, está um mecanismo muito utilizado durante a ditadura militar brasileira: o impedimento de que a imprensa divulgue a verdade. Muito se fala que durante o período governado pelos militares, não houve corrupção no Brasil. Na verdade não existia acesso livre da imprensa e, muito pior que isso, a censura prévia, promovida pelo Ato Institucional número 5, o AI-5, impedia que jornalistas divulgassem qualquer coisa sem o consentimento do governo. E foi essa mesma ditadura que perseguiu mais de 50 jornalistas (segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas) e matou Vladimir Herzog, jornalista símbolo da resistência da imprensa no nosso país.


É por isso que a liberdade de imprensa é a principal ferramenta de um estado democrático. Sem uma imprensa livre, ficamos à mercê do discurso ditatorial que querem nos empurrar como verdade. Como não se lembrar da distopia - cada vez mais próxima - de George Orwell, 1984, em que o controle de informações é o sustentáculo da ditadura do Grande Irmão?


E como não lembrar de Hipólito José da Costa, um dos patronos do jornalismo brasileiro que, só conseguiu fazer um jornal livre (o Correio Brasiliense), porque o fazia longe do Brasil? Isso se deu pois aqui em terras tupiniquins, o único jornal que podia circular "livremente" era o institucional Gazeta do Rio de Janeiro, que não tinha outra função a não ser falar bem da Coroa portuguesa que acabava de se instalar nos trópicos em 1808.


Ele, Hipólito da Costa, foi um grande defensor da liberdade de imprensa. Em seus textos, sempre arrumou espaço para dizer "Porque nenhum benefício, nem talvez a vida, compense a liberdade". Frase essa que foi provada - infelizmente - por Líbero Badaró, jornalista que foi assassinado (o primeiro na história brasileira) no dia 30 de novembro de 1830. Foi morto por causa de sua atuação no seu jornal, O Observador Constitucional, no qual defendia o liberalismo e fazia duras críticas ao império de Dom Pedro I. No seu leito de morte, ainda caído na rua em São Paulo que hoje tem o seu nome, teria proferido a seguinte frase: "Morre um liberal, mas não a liberdade".


O jornalismo não deve se contentar com nada menos do que a liberdade. Faz parte do nosso ofício e está em nossas veias. Uma imprensa sem liberdade não é imprensa, é veículo institucional. Ou como bem disse William Randolph Hearst - jornalista que inspirou o personagem Charles Foster Kane, protagonista de Cidadão Kane, do já citado George Orwell -, "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade".


Viva à liberdade de imprensa! Viva ao jornalismo livre!


Conhecimento é conquista. -FS

15 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page