> Há dias do domingo, 6 de outubro, dia das eleições municipais, fica cada vez mais evidente e a olhos vistos o que todo mundo já sabe: teremos um segundo turno entre dois candidatos a prefeito e uma câmara dos vereadores eleitos de direita. Fazer o que? Jundiaí é de direita e é preciso lidar com isso.
Antes mesmo do início da campanha, eu havia alertado por aqui mesmo que um segundo turno entre José Antônio Parimoschi (PL) e Gustavo Martinelli (União Brasil), dois lados de uma mesma moeda conservadora e bolsonarista, iria acontecer. Ricardo Bocalon (PSB) e Higor Codarin (PSOL) não conseguiram fazer absolutamente nada para mudar esse cenário previsto. E a culpa nem é deles.
A cidade de Jundiaí ainda respira os ares de uma província, de um feudo lar da pseudo-nobreza do Estado formada por pessoas que gostam das coisas como estão e têm náuseas só de pensar na quebra do status quo.
Mas calma lá. Há nos cantos da cidade, espalhados por aí, uma gente minimamente barulhenta que faz soar as batucadas progressistas. A esquerda jundiaiense existe, mas está fragmentada em bandas cada vez menores.
Essa desunião da esquerda não foi muito útil nas últimas eleições. A fragmentação pulverizou os votos e passamos quatro anos sem nenhum vereador ou vereadora que representasse os interesses progressistas da cidade e isso pode voltar a se repetir.
Não estou pedindo uma união dos campos de esquerda de Jundiaí. Seria pretensão demais para um mero jornalista. A minha leitura é simples: nessas eleições, a esquerda precisa decidir pelo voto útil.
Nessa legislatura, prevejo que haverá uma cadeira disponível para a esquerda. Duas, com um pouco de sorte. Portanto, é preciso escolher bem quem irá sentar nela (ou nelas). Para enfrentar a direita jundiaiense e evitar que a Câmara dos Vereadores seja uma casa de despacho do prefeito, será preciso experiência, representatividade e preparo.
Experiência para lidar e promover investidas, uma vez que o embate será duríssimo, já que estamos falando de uma luta solitária. Ter experiência significa saber jogar o jogo político para negociar com o inimigo. Representatividade para ter força na hora dos debates e ser, comprovadamente, representante de um grupo significativo que se encontra em posição de minoria. Por fim, preparo para aguentar porrada de todos os cantos e mesmo assim se manter de pé para fazer o trabalho de fiscalização do executivo.
Vou usar esse filtro para analisar brevemente as candidaturas que podem ocupar esse espaço. Pensando em preparo, poderíamos olhar para Henrique Parra do Cardume (PSOL), que demonstra ter condições de aguentar o tranco e fiscalizar o prefeito, mas ele perde na experiência e principalmente na representatividade, afinal, seria mais um homem branco jundiaiense em um espaço de poder.
Mesmo problema de Pedro Bigardi (PCdoB). Se ele peca na representatividade, ganha no preparo e na experiência, uma vez que ele já foi prefeito de Jundiaí e conhece como ninguém como lidar com o legislativo e o executivo.
Já que estamos falando de representatividade, não faltam candidatos negros, mulheres e LGBTs que poderiam cumprir muito bem esse papel. Mas aí esbarramos na falta de experiência e de preparo, uma vez que são candidatos e candidatas de primeira viagem.
A única pessoa que une os três quesitos é Mariana Janeiro (PT). Em sua quarta eleição como candidata, usa sua experiência como Secretária Nacional de Mobilização do Partido dos Trabalhadores para entender como funcionam as entranhas da política. Mulher, negra e mãe, representa a maior fatia do eleitorado jundiaiense que, incrivelmente, é considerada uma minoria que precisa ser representada na cidade. Preparada o suficiente para ocupar um cargo na ONU, além de ser fundadora da Rede Valentes que protege e dá auxílio a mulheres em situação de vulnerabilidade.
Jundiaí é de direita, ponto. Colocar alguém de esquerda na Câmara é importante, mas colocar alguém de esquerda que consiga brigar pelas pautas progressistas é fundamental para não amargarmos mais quatro anos de inércia política.
Conhecimento é conquista. -FS
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