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Diário de Bordo #10 - O casamento dos meus primos [Parte 1]

Foto do escritor: Felipe SchadtFelipe Schadt

Fernando e Franciane, meus primos que estavam prestes a se casar (Arquivo Pessoal Franciane Teixeira)
Fernando e Franciane, meus primos prestes a se casar (Arquivo Pessoal Franciane Teixeira)

> Eu estava em um churrasco para comemorar o aniversário da Tia Elci. Era junho e eu e a Carol já planajávamos nossa viagem para Berlim em janeiro e falávamos sobre isso entre nós ali mesmo no churrasco de aniversário.


Foi então que uma prima minha, a Franciane, se aproximou. Ela estava com o seu noivo, o Fernando, que também é meu primo. "Fê, você vai conseguir ir no nosso casamento em janeiro?", eu havia respondido que “não” e para justificar, falei sobre a viagem à Alemanha. Na hora os olhos da minha prima encheram d'água e seu rosto demonstrou muito desapontamento.


Havia alguns dias naquela semana que ela tentava falar comigo, mas não conseguíamos conciliar agenda. Eu imaginava que era algo sobre o casamento, mas ela se recusava a falar por mensagem. Ela queria que fosse uma conversa real. "Poxa, Fran. Eu e a Carol estamos planejando essa viagem há algum tempo...", disse antes de ser interrompido: "Eu e o Fernando queriamos te convidar para celebrar nosso casamento".


Foi nesse momento que os planos mudaram.


Câmbio!


...


Eu conheço a Fran desde que eu me entendo por gente. Fazemos parte da mesma geração. Eu a considero minha prima, mesmo tecnicamente ela não sendo. Veja: ela é filha da Malu, a Malu é irmã do Jean, o Jean é marido da Elci, a Elci é irmã da Josi e a Josi é minha mãe. É mais fácil aceitar que somos primos do que tentar provar o contrário.


Mas minha aproximação com a Fran aconteceu de verdade - veja você - na pandemia. Na época ela fazia doutorado na Imunologia e eu mestrado na Comunicação da USP. Mas antes disso, eu e ela já éramos a parcela acadêmica da família, ou pelo menos, os que chegaram "mais longe" nessa aventura maluca chamada ciência, por isso nossos papos sempre bateram bem.


No período da quarentena de covid 19, ela e um grupo de pesquisadores criaram um site para desmentir fake news sobre o corona vírus, o Covid Verificado. Ao mesmo tempo, eu tinha um podcast de filosofia que já estava em seu segundo ano de atividade. Tanto o site quanto o podcast tinham como base a divulgação científica e isso foi fundamental para aproximá-los.


Para o episódio 17 do Sob Torção "Vida de cientista: o dia-a-dia de quem faz ciência no Brasil", eu convidei a Fran e seus amigos pesquisadores para bater um papo comigo. O tema era mais do que relevante, era urgente, pois eles estavam na linha de frente das pesquisas sobre a covid 19. E foi nesse episódio que nasceu uma ideia: e se fizéssemos um podcast para desmentir as notícias falsas sobre o corona vírus? Era basicamente transformar as pautas do site em áudios. Assim nasceu o Sob Covid.


Entre uma gravação e outra, eu e a Fran conversávamos muito. A maioria das vezes, chorávamos as pitangas um para o outro a respeito de como nossa família estava lidando com a pandemia... Olha, eram horas e horas de vídeo-chamada. Mas a admiração que nutríamos um pelo outro também crescia.


Já o Fernando é meu primo mesmo. Primo de terceiro grau, mas primo. Ele é neto do Sebastião, o Sebastião é irmão do Severino e o Severino é o meu avô. E embora a gente realmente divida o mesmo sangue familiar, nunca fui próximo dele. Eu só fui saber de sua existência quando ele e a Fran já namoravam e foi a minha mãe quem disse que ele era meu primo.


Mesmo depois de "conhecê-lo", a gente só se via nos churrascos da família, principalmente nos "CarnaSeve" (aniversário do meu avô que sempre cai perto do carnaval). Nesses churrascos, não trocávamos muitas palavras um com o outro e eu nunca consegui explicar o porquê. O Fernando é muito na dele e, embora seja um cara gente finíssima, o papo entre nós era sempre rápido e rasteiro.





Minha admiração por ele veio por intermédio da Fran que nunca escondeu o quanto ele sempre foi um cara especial. Ele sempre a tratou muito bem e isso era a olhos vistos. Todo mundo gostava do Fernando mesmo ele não precisando dizer muita coisa. Ele é um cara de ação.


Quando eles decidiram se casar, eu recebi o convite, ainda no primeiro semestre de 2024. Fiquei muito feliz pelos dois, afinal eles já namoravam desde 2011 e já moravam juntos há pelo menos dois anos. O problema é que o convite indicava que o casamento seria no dia 11 de janeiro de 2025, mesmo período que eu e a Carol planejávamos estar de férias em Berlim.


Um parenteses. Se você não me conhece, saiba: eu amo a Alemanha. Minha relação com esse país é algo inexplicável. Já havia a visitado em três oportunidades e iria para minha quarta visita. No final de junho de 2024, eu iria para Frankfurt ver um jogo da seleção da Alemanha na Eurocopa, um sonho antigo. Nenhum problema até aí, certo? Mais ou menos.


Desde quando conheci a Carol ela fala que sonha em conhecer a Alemanha. E olha que a Carol já rodou o mundo, mas a Alemanha ela não pôs os pés ainda. Eu prometi que iria fazer essa viagem com ela. Poxa, apresentá-la para o país que eu amo seria uma das coisas mais legais da minha vida. 


Em 2018 combinamos de ir. Estava tudo certo e já estávamos vendo passagem para comprar. Mas aí veio o U2 e arruinou tudo. Show da turnê eXPERIENCE Tour na Europa, bem na época da nossa viagem. O problema é que na data que poderíamos viajar condizia com os feriados de outubro, mesmo período que a banda do Bono iria fazer dois shows em Paris. "Amor, você ficaria triste se ao invés de ir para Berlim irmos para Paris", perguntei já com o site de compra dos ingressos do show aberto. Ela respondeu: "Quem fica triste em Paris? Bora!". E lá fomos nós para a cidade luz. O bom é que era uma cidade que eu não conhecia e que a Carol, quando foi, não teve tempo de conhecer. Ficamos felizes, mas a Alemanha teria que esperar.


"Quem fica triste em Paris?"
"Quem fica triste em Paris?"

No ano seguinte, nossas agendas não foram benevolentes e um show do U2 na Nova Zelândia me fez gastar o pouco dinheiro que eu tinha (ainda estava me recuperando financeiramente de Paris). Zero chances de Alemanha.



Fui para o outro lado do mundo ver o U2
Fui para o outro lado do mundo ver o U2

Em 2020, pandemia. Só íamos pensar em viajar depois que nos voltássemos a nos estabilizar financeiramente. A Carol tem uma agência de intercâmbio e o tombo que ela tomou por causa da pandemia foi grande. Nesse período, conversávamos muito sobre realizar sonhos. O meu era morar na Alemanha, até comecei a pagar um intercâmbio para, em 2023, ir passar seis meses lá. Seria a chance perfeita da Carol me visitar nesse período e voltarmos para casa juntos. Mas aí veio o Coldplay e arruinou tudo.


Desisti do intercâmbio e fui atrás de um violão (claro que contarei essa história em algum momento aqui). Peguei o reembolso e comprei meus ingressos para os 11 shows da banda do Chris Martin no Brasil. Ganhei o violão dele no fim das contas, mas nada de Alemanha.


Eu e o (agora meu) violão do Chris Martin
Eu e o (agora meu) violão do Chris Martin

No mesmo ano, eu ainda encararia um bate-volta para Nova York para ver um show solo do Bono (eu sei, é um caso de obsessão), enquanto a Carol estava fazendo o Caminho de Santiago, o sonho dela que se manifestou naquelas nossas conversas sobre realizar sonhos. E em outubro, o U2 me inventa de fazer um show na Sphere, em Las Vegas. Preciso mesmo dizer que eu tive que ir? A Carol foi comigo e aproveitamos muito a "cidade do pecado".


Enquanto eu estava na calçada de um teatro em Nova York...
Enquanto eu estava na calçada de um teatro em Nova York...

A Carol andava 800 km na Europa...
A Carol andava 800 km na Europa...

Para no fim, a gente viajar juntos para ver a "Bola do Bono" em Las Vegas
Para no fim, a gente viajar juntos para ver a "Bola do Bono" em Las Vegas

Em 2024 seria o ano! Teríamos que retomar nosso sonho de irmos juntos para Alemanha, mas surgiu uma oportunidade ótima de emprego para mim. A Carol trabalha na Experimento Intercâmbio e, no período de férias, eles enviam estudantes do Brasil todo para várias partes do mundo passar até três semanas fora. Para esses programas de férias, eles precisam de líderes e a Carol me indicou para ser um deles. Ou seja, meu mês de férias, julho, estava comprometido com o Canadá.


Eu e meus adolescentes no Canadá
Eu e meus adolescentes no Canadá

E você lembra que eu falei que em 2024 teria Eurocopa na Alemanha, certo? Pois é! Um dos meus maiores sonhos relacionados ao esporte era assistir essa competição in loco na Alemanha. Seria naquele momento ou sabe-se lá quando. Comprei uma passagem às pressas, achei um ingresso na última hora e, numa quarta-feira, embarquei para Frankfurt, cheguei na quinta, vi o jogo no domingo e voltei na segunda para casa. A loucura não se estendeu à Carol que ficou no Brasil.


Eu, sem a Carol, na Alemanha para o jogo da Seleção Alemã na Euro
Eu, sem a Carol, na Alemanha para o jogo da Seleção Alemã na Euro

Ter ido para Alemanha sem ela foi a parte ruim. Então o que era sonho já tinha se tornado uma questão de honra. Estudamos as agendas e decidimos que janeiro de 2025 era o melhor mês, ou pelo menos, o mês possível para ambos. Os planos já estavam sendo feitos: onde ficaríamos, cidades que passaríamos, passeios que faríamos. Só faltava encontrar as passagens e esperar o dia da viagem chegar. Fecha o parenteses.


Em junho, às vésperas da minha viagem solo para a Eurocopa, minha Tia Elci resolveu comemorar seu aniversário com churrasco e piscina, o sagrado churrasco com piscina. A família toda estaria lá, inclusive a Fran e o Fernando. Assim que eles me viram, chegaram perto para conversar. Eu e a Carol falávamos sobre a Alemanha quando os dois se sentaram do nosso lado.


Franciane, Eu, Tia Elci e a Carol no aniversário, minutos antes da Fran me fazer o convite
Franciane, Eu, Tia Elci e a Carol no aniversário, minutos antes do convite da Fran (Arquivo Pessoal Elci)

A Fran ficou realmente decepcionada quando descobriu que iríamos para Berlim no mês do casamento dela e que, por isso, não poderíamos aceitar o convite. Eu vi os olhos dela se encherem de lágrimas. E ela queria falar comigo sobre o casamento há dias naquela semana e nunca conseguíamos conversar. Mal sabia eu que o motivo era tão especial.


"Eu e o Fernando queríamos te convidar para celebrar nosso casamento". Nesse momento eu não consegui disfarçar o espanto, olhei para Carol e ela já estava com um sorriso de orelha a orelha. "Nossa Fran, que honra...", eu dizia quando a Carol, muito feliz, me interrompeu. "Com certeza ele vai celebrar seu casamento, a Alemanha pode esperar". Me senti aliviado, porque era exatamente o que eu queria responder. Foi então que a água nos olhos da Fran se intensificaram e combinaram perfeitamente com o sorriso no rosto do Fernando. Eu iria celebrar o casamento dos meus primos.


Câmbio, desligo!


Conhecimento é Conquista! -FS


Em breve, na parte 2...


[...] Pois fique sabendo que não seria o meu primeiro casamento realizado. Por ser o único da turma que já sabia ler e exibido o suficiente para não ter vergonha do público, eu fui o padre na festa junina do prézinho...


Eu, na pré-escola, celebrando o casamento dos noivinhos caipiras
Eu, na pré-escola, celebrando o casamento dos noivinhos caipiras



 
 
 

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