Bolsonaro: condenado a entrar para a história

Jair Messias Bolsonaro em sua casa cumprindo prisão domiciliar (Foto: Estadão)

E não é que aconteceu mesmo? Jair Messias Bolsonaro foi condenado por tentativa de Golpe de Estado na última quinta-feira (11) pela primeira turma do Supremo Tribunal Federal e deverá cumprir pena de 27 anos de prisão. Não é a primeira vez que um ex-presidente brasieliro é levado à prisão, longe disso. Nossa centenária república já viu pelo menos mais nove chefes do executivo que foram parar no xilindró após deixarem a presidência.

Em 1922, já como ex-presidente, Hermes da Fonseca, teve ordem de prisão decretada pelo presidente da época, Epitácio Pessoa, por ter criticado uma medida de intervenção federal em Pernambuco. Anos mais tarde, Washington Luiz, que governou de 1926 a 1930, sofreu um golpe de estado liderado por Getúlio Vargas e foi levado preso para o Forte de Copacabana. Vargas levaria outro ex-presidente para a cadeia, Artur Bernardes que, ao apoiar a Revolução Constitucionalista de 1932, foi preso em setembro do mesmo ano, partindo para o exílio em Portugal.

O quarto ex-presidente preso foi Café Filho, vice-presidente de Vargas que assumiu a presidência após o suicídio de Getúlio. Cercado por um grupo militar [que pedia a posse de Juscelino Kubitschek] em seu apartamento, Café Filho ficou em prisão domiciliar até que o STF confirmasse o pedido de renúncia do então presidente, o que assegurava a posse de JK que, anos mais tarde, seria acusado de corrupção e aliança com comunistas. Em 1967, Kubitschek participou da Frente Ampla pela volta da democracia no Brasil, foi levado à prisão, onde permaneceu por alguns dias até passar um período em prisão domiciliar.

Não perca a conta. O sexto ex-presidente encarcerado foi Jânio Quadros. Ok, oficialmente, Jânio não foi preso, mas foi condenado ao confinamento na cidade de Corumbá (MS) por 120 dias por declarações que o ex-presidente, que havia perdido seus direitos políticos com o golpe de 1964, tinha dado à imprensa criticando o regime militar. Durante o golpe que durou até a redemocratização em 1985, os presidentes militares haviam passado ilesos das celas.

Só nos últimos sete anos, vimos três ex-presidentes irem para a cadeia. Lula em 2018, acusado de corrupção passiva no famoso caso do Sítio de Atibaia e do Triplex no Guaruja, o petista teve sua prisão anulada pelo STF por falta de provas e por parcialidade de Sergio Moro, juiz que condenou o atual presidente. Moro, inclusive que, após prender Lula, se tornou "Super Ministro" da Justiça do governo Bolsonaro, beneficiado direto com a saída do candidato do PT da corrida eleitoral daquele ano.

Jair Bolsonaro poderia ser só mais um ex-presidente preso dessa enfadonha lista, mas não é.

A mesma operação Lava Jato que colocou Lula na cadeia, no ano seguinte levou Michel Temer, vice de Dilma que assumiu a presidência após o impeachment da petista, para atrás das grades por quatro dias (de 21 de março à 25 de março). Mas eles seria preso novamente no dia 8 de maio após Tribunal Regional Federal derrubar seu habeas corpus. Em 14 de maio, a Sexta Turma do STJ decidiu por unanimidade soltar Temer e substituir a prisão com medidas cautelares, como entrega de passaportes e bloqueios dos bens.

A Lava Jato ainda faria sua terceira vítima presidencial, o ex-presidente Fernando Collor de Melo. Preso em 25 de abril de 2025, Collor foi condenado pelo STF à oito anos e dez meses de prisão por por corrupção e lavagem de dinheiro em um esquema na BR Distribuidora. O relator do caso foi Alexandre de Moraes que ganharia destaque com a condenação de outro ex-chefe do executivo.

Jair Bolsonaro poderia ser só mais um ex-presidente preso dessa enfadonha lista, mas não é. A condenação de Bolsonaro é, com toda certeza, a mais significativa de todas as anteriores que acabei de citar. Embora seja o 9º ex-presidente que carregará uma prisão na biografia, Bolsonaro é o primeiro a ser condenado por tentativa de golpe de estado. Um marco simbólico para a nossa República que nasceu de um golpe.

Quem sofreu com a ditadura de 1964 amargou a impunidade de seus malfeitores. Muitos não viveram para ver militares brasileiros no banco dos réus e talvez nem achassem possível a prisão de alguns deles. A justiça não veio como deveria, é verdade, mas Bolsonaro e sua gangue (sim, uma gangue) de militares golpistas vão pagar por todo esse atraso histórico.

Bolsonaro não irá só para a cadeia em dezembro (mês previsto para o início do cumprimento da sua pena), mas também entrará de vez na lata do lixo da história e nossos filhos e netos irão ler nos livros na escola que o houve um presidente notoriamente ruim que não aceitou perder as eleições e tentou destruir a mesma democracia que o colocou no poder, mas que, pela própria incompetência, não conseguiu golpear o estado brasileiro, foi julgado, condenado e apodreceu na cadeia até seu derradeiro fim.

Jair Messias Bolsonaro não será só mais um ex-presidente preso. Tão pouco será esquecido. Ele e aqueles que os seguem estão condenados a entrarem para a história como os maiores párias do nosso país. O mito de seu fracasso deve reverberar pelos quatro cantos da república para todo sempre. Eu farei minha parte, pois enquanto eu viver, farei questão de contar sobre isso.

Conhecimento é Conquista!

-FS