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  • Foto do escritorFelipe Schadt

Professor não é inimigo

Movimento ganha adeptos da USP.

#ProfessorNãoÉInimigo

Há um mês, iniciei um movimento chamado #ProfessorNãoÉInimigo, convidando outros professores e educadores a se manifestarem frente a onda de perseguição que docentes de todo Brasil estão sendo submetidos. O objetivo é simples: chamar a atenção para uma obviedade que precisa ser repetida muitas vezes, a de que os professores não são inimigos.


Tudo começou quando, logo após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, a deputada estadual eleita por Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (PSL), abriu um canal informal para receber denúncias de alunos que presenciaram professores que discursaram em sala de aula contra Bolsonaro. Segundo reportagem do UOL, publicada no dia 29 de outubro – dia seguinte ao segundo turno das eleições -, Campagnolo disse em suas redes sociais no dia anterior (28) que "amanhã é o dia em que os professores e doutrinadores estarão inconformados e revoltados". "Muitos deles não conterão sua ira e farão da sala de aula um auditório cativo para suas queixas político partidárias em virtude da vitória de Bolsonaro. Filme ou grave todas as manifestações político-partidárias ou ideológica".


Imediatamente, o canal criado pela deputada eleita recebeu várias mensagens e denúncias contra os professores. Ao mesmo tempo, alimentou as discussões sobre o projeto Escola Sem Partido, que em suma, pretende proibir e coagir ideologias políticas dentro da escola. Fiz um vídeo falando a respeito que você pode assistir ao final do texto.


A atitude da deputada ganhou as redes e viralizou quase que instantaneamente, levantando debates sobre o tema. Mas o que de fato aconteceu foi colocar o professor como um inimigo social que precisa ser vigiado, coagido e punido.


Eu mesmo sofri com isso muito antes da deputada catarinense incentivar que os alunos denunciassem professores nas salas de aula. Pais de um aluno vieram até a instituição que trabalho para denunciar minhas postagens nas redes sociais e uma suposta doutrinação de minha parte na minha aula e perseguição ao aluno em questão. Permita me contar a história.


Dou aula para o curso de jornalismo e uma das minhas disciplinas é Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa em Jornalismo. Em uma das aulas, explicava a importância de identificar fontes confiáveis e seguras, para não basearmos nossas pesquisas em veículos duvidosos. O aluno em questão, eleitor do Bolsonaro, levantou a mão e deu como um exemplo de veículo não confiável a Revista Veja (que na semana anterior, havia divulgado uma reportagem negativa sobre o candidato do PSL). Minha reação foi a única possível: “Por que você acha isso?”, e o aluno respondeu que a revista estava perseguindo seu candidato e que estava publicando uma mentira. Voltei a questionar. “Por que você acha que é uma mentira?” E a cada resposta do aluno, a minha mesma pergunta: “Por que?”.


O estudante deve ter ficado chateado com meus questionamentos, pois visivelmente ficou irritado quando minhas perguntas o fizeram perceber que toda sua argumentação se baseava em achismos. A situação só piorou após alertas que eu havia feito para ele sobre recentes publicações que ele havia compartilhado em suas redes, que na ocasião eram Fake News. Disse que isso poderia prejudicar a carreira dele no jornalismo. Na semana seguinte, seus pais estavam na instituição de ensino que atuo com material impresso das minhas postagens nas redes sociais como “prova” da minha perseguição a alunos bolsonaristas.


Me senti perseguido e humilhado, pois não fiz absolutamente nada de errado. Meu papel como docente é fazer meu aluno pensar e, para isso, preciso sempre questioná-lo. O problema é que meus questionamentos fizeram com que suas verdades e certezas sobre seu candidato entrassem em xeque. Óbvio que não o agradou.


A sensação de perseguição só aumentou quando a deputada estadual de Santa Catarina publicou seu incentivo aos alunos para filmarem e denunciassem professores que eles julgassem doutrinadores ideológicos.



Na última semana, o fotógrafo e educomunicador, Maurício Virgulino Silva, resolveu ampliar a campanha para atingir mais docentes que, como eu, também discordam da perseguição que os professores estão sofrendo. Aproveitou o II Congresso Internacional de Comunicação e Educação, realizado pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP e pela ABPEducom (Associação Brasileira de Profissionais e Pesquisadores de Educomunicação), na ECA/USP, para convidar os educadores presentes a aderirem ao movimento.


Todos professores convidados toparam ser fotografados. Com uma das mãos, seguravam seu objeto de trabalho, simbolizando que professores não possuem armas. Com a outra mão, tapavam a boca, em claro sinal de que querem calar os educadores. Foram 27 educadores fotografados, com destaque para a participação de Adilson Odair Citelli e Ismar de Oliveira Soares, ambos docentes da USP e com uma riquíssima trajetória na sala de aula.


O resultado você confere aqui:


Fotos: Maurício Virgulino Silva


Queremos convidar todos os professores a aderirem ao movimento e deixa-lo cada vez mais forte. Tire uma foto segurando um objeto seu de trabalho e com a outra mão tapando a boca e poste nas suas redes sociais com a hashtag #ProfessorNãoÉInimigo. Precisamos mostrar para sociedade que nosso papel é ensinar e, em um país que já dá poucas condições de trabalho para os professores, o que menos precisamos agora é de perseguição.


Conhecimento é Conquista -FS


Vídeo sobre o "Escola Sem Partido"


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