
Uma performance da escola de samba Gaviões da Fiel foi o suficiente para causar a discórdia facebookiana do carnaval de 2019. Isso porque a comissão de frente da escola mostrava o demônio enfrentando uma representação de Jesus Cristo. Nenhum problema se, na interpretação dos bailarinos da Gaviões, Jesus não tivesse sido derrotado pelo belzebu. Logo, a ala cristã conservadora das redes sociais se revoltou contra o desfile e iniciou uma cruzada contra a escola corintiana. O problema é que faltou atenção aos críticos. A história representada ali na avenida em São Paulo não era sobre Cristo e sim sobre Santo Antão (1).
O santo egípcio, que nasceu na cidade de Conam, no ano de 251 d. C. tem tudo que todo cristão adora em uma história de devoção. Nasceu em uma família abastada, teve uma grande dificuldade durante a juventude quando perdeu os pais aos 20 anos de idade. Herdou seus bens mas foi graças a uma pregação que trazia a passagem em que Jesus diz a um jovem rico para que ele largasse tudo o que tinha para seguir os ensinamentos do Messias (essa passagem está em Matheus 19-21) que Antão resolveu mudar de vida. Ele doou tudo aos pobres e foi viver no deserto para se dedicar a uma vida de adoração (2).
Mesmo isolado no deserto, pessoas em busca de sua sabedoria iam atrás de Antão para seguí-lo. Todo tipo de gente buscava pelos seus conselhos, até mesmo Constantino, o Grande que, mesmo sendo o homem responsável pelo concilio de Nicéia, se encontrava com Antão para pedir conselhos. Assim, Santo Antão ficou conhecido como o Pai dos Monges e Pai dos Eremitas Cristãos.
Mas o que fez Santo Antão realmente famoso foram as tentações diabólicas que ele enfrentou durante sua jornada no deserto. O artista holandês Hieronymus Bosch (1450 -1516) retratou a lenda do Santo em um tríptico A Tentação de Santo Antão. Nessa obra, que possui três partes, o artista retrata todas as artimanhas que o demônio usou para atormentar Santo Antão. O tríptico traz no volante esquerdo O Voo e a Queda de Santo Antão, no central, A Tentação de Santo Antão, e no direito, Santo Antão em Meditação (3).

Santo Antão morreu com 105 anos, no dia 17 de janeiro de 356 d. C, na cidade de Coltzum. Tido como um exemplo de fé e renuncia, o Santo deixou como ensinamento o seu próprio exemplo de vida que era evitar o veneno do pecado e conservar integra a fé viva na caridade como se tivesse que morrer a cada dia.
Enquanto Santo Antão vencia as tentações demoníacas, nós aqui, 18 séculos depois, não conseguimos nos livrar do pecado da ignorância. O diabo da apresentação da Gaviões da Fiel não precisou de muito esforço para que muita gente caísse na tentação de julgar sem antes entender a proposta da performance. Sim, o Diabo vencia Jesus Cristo em uma batalha. Sim a intenção do coreógrafo da Gaviões era mesmo causar esse choque (4). Mas a mensagem artística por trás disso tudo era referente a luta do bem contra o mal que, no fim da coreografia, tem no seu desfecho a derrota da maldade. Porém a tentação da ignorância é maior e, ao contrário do herói da nossa história aqui, quase ninguém conseguiu resisti-la.
Se Santo Antão estivesse vivo e você procurasse um conselho dele sobre esse caso, aposto que ele lhe diria: “Dê um google antes de julgar, amém?”.
Santo Antão, ficai sempre a meu lado, vós que vencestes o demônio, me dareis força na tentação. Na hora da tentação, socorrei-me Santo Antão. Santo Antão, eremita que nunca faltais com o vosso socorro aos que vos invocam, rogai por nós. Amém.
P.s.: Se você trocar a palavra “tentação” por “ignorância” e “Santo Antão” por “Google”, a oração tem o mesmo efeito.
Conhecimento é Conquista - FS
Fontes:
(4) https://www.youtube.com/watch?v=ObKvSUEGuaY
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