top of page
  • Foto do escritorFelipe Schadt

Fiquei feliz com a morte de uma pessoa


Policial imobiliza assaltante após acertá-lo com um tiro

Hoje de manhã eu assisti a um vídeo que já se tornou viral nas redes. Se trata de uma policial dando um tiro em um bandido. O que me deixou chocado não foi a ousadia do meliante e nem a frieza da PM. O que me deixou chocado foi eu ter aplaudido a cena.

Fui buscar alguma referência na filosofia no qual eu pudesse me apoiar para entender o motivo do meu aplauso. Achei Hobbes e seu Leviatã.

"Oras, Felipe. Você aplaudiu a ação corajosa de uma policial que defendeu as pessoas que poderiam ter sofrido com a ação do cara", pode me dizer você. Mas será que foi por isso ou eu fiquei feliz em ver uma pessoa agonizando na rua depois de tomar um tiro no peito?

Fiquei pensando sobre isso e cheguei a uma conclusão rápida: fiquei sim feliz com a morte de uma pessoa.


"Mas é um bandido", dirá você.

"Mas continua sendo uma pessoa", direi eu.


Fui buscar alguma referência na filosofia no qual eu pudesse me apoiar para entender o motivo do meu aplauso. Achei Hobbes e seu Leviatã.


Escrito em 1651, O Leviatã, do inglês Thomas Hobbes, explica como a sociedade precisou estabelecer um contrato social para se livrar da barbárie que o estado de natureza nos mantinham. Explico: No livro, os homens vivem em um estado de natureza, em que a lei do mais forte prevalece. No estado de natureza você pode fazer tudo o que quiser e quando quiser, basta ter força suficiente para isso. Está com sede? Vai lá e beba; está com fome? Vai lá e coma; está com vontade? Vai lá e faz! Gostoso viver assim, né?


Então... Se o mais forte faz o que quer, pergunte-se: "Sou eu o mais forte ou há mais fortes do que eu?". Você perceberá rápido que sempre haverá alguém mais forte que você e, logo, poderá fazer o que quiser, inclusive com você. Agora o estado de natureza não é mais tão legal assim, né?


Hobbes explica que, com medo de ser subjugado, o homem pede um acordo com o Leviatã (que representa o Estado): "Te dou tudo: minha liberdade, meus desejos e minhas vontades, mas em troca eu quero que ninguém use a força contra mim". Aí o pacto social se estabelece. O Estado garante a segurança e o homem garante que não sairá por aí usando a força para fazer o que quiser.


Dentre tantas maneiras de se entender esse pacto social, eu destaco uma. Somos seres altamente perigosos. Precisamos estabelecer um contrato para não subjugar o próximo e para que o próximo não nos subjugue. O estado natural do homem é um estado de guerra, em que todos são contra todos. Por isso nos conformamos com a barbárie.


Ainda sob a ótica do livro, quando o Estado falha em nos dar segurança, o contrato se quebra e estamos autorizados (ou nos sentimos no direito) de voltar ao nosso estado de natureza. Mas quando o estado funciona, ficamos aliviados.


A policial era uma ferramenta do Estado para nos manter seguros. O bandido é o homem que não quis obedecer às regras do Estado e tentou usar da força para fazer o que queria. O Estado cumpriu seu papel e garantiu nossa segurança. Nós aplaudimos. Mas ainda sim, aplaudimos a morte de alguém.


No fim, somos animais enjaulados. Animais que precisam ser controlados, porque se fossemos livres para fazer o que quiséssemos, com certeza viveríamos na barbárie. Precisamos viver presos, pois soltos somos uma ameaça a vida alheia.

Fiquei feliz com a morte de uma pessoa.


"Mas é um bandido", dirá você.

"Mas continua sendo uma pessoa", direi eu.


Fiquei feliz com a morte de uma pessoa e não estou feliz com isso.

Mas agora chega de pensar. O Tite acabou de convocar a Seleção.


Conhecimento é Conquista

-FS


8 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page