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  • Foto do escritorFelipe Schadt

Eu desisti


Imagem: Reprodução/Internet

Sou professor há seis anos e não existe sentimento pior do que esse que estou sentindo agora: fracasso. Em seis anos, muita coisa aconteceu comigo em sala de aula, mas nunca, nunca mesmo, me senti tão fracassado como me sinto hoje. O motivo? Eu desisti de um aluno.


Tive muitos alunos complicados que não queriam aprender ou não estavam nem aí, mas mesmo assim eu jamais havia desistido deles. Lutava até a última aula para fazer desse aluno uma pessoa questionadora, livre e emancipada com conhecimentos mínimos para que pudesse enfrentar o mundo.


Mas dessa vez não foi a falta de vontade de aprender ou de estar na sala que me fizeram desistir de um aluno. Foi a certeza de que esse aluno adquiriu de que ele está certo e o mundo está errado. E por mais que eu tentasse lhe dizer: "Ei! Certezas cegam. Não acredite em tudo e sempre se questione... Inclusive de mim. E não se esqueça de que as paixões atrapalham no nosso raciocínio e nossa compreensão do todo", esse aluno já estava com certezas demais para ouvir.


Ele está completamente apaixonado pelo seu ideal e por aquilo que acredita ser o certo. Ele tem certeza de que o que ele acredita está correto, mesmo tendo várias situações em que sua verdade é posta à prova. A paixão pelo ideal é tão grande que ele fecha os olhos só para continuar tendo as suas certezas intactas.


Aprendi que o trabalho de um professor não é depositar conteúdo na cabeça de alguém. Pelo contrário, é abrir a cabeça dos alunos para as várias verdades que existem e fazê-los se questionarem de todas, buscando sempre mais e mais conhecimento. Na sala de aula eu sou um instigador. Um provocador. Não dou respostas. Dou mais perguntas...


Mas como posso abrir a cabeça de alguém que não quer que seja aberta? Que insiste em trancá-la com cadeados ideológicos sem dar a menor chance da dúvida entrar? Não tem como. Juro que tentei. Pedi com jeito: "Abre a mente, existem muitas coisas para se descobrir". Tentei forçar: "Chega em casa e leia tal coisa e depois busque informações para saber se o que você leu faz sentido". Apelei: "Se você continuar assim, vai estragar a carreira que escolheu seguir na faculdade". Não adiantou. O aluno trancou a mente e jogou as chaves fora. Não dá mais para por nada que seja questionador lá dentro. Ali, só cabem certezas. As certezas que ele escolheu como verdade.


Sendo assim. Eu desisto. Pois não há nada mais que eu possa fazer.


E isso é um sentimento horrível. Me sinto um fracassado. Não consegui o que eu deveria fazer. Hoje, não consigo compreender muito bem esse sentimento de derrota, mas espero que com calma eu possa entender de que ele é necessário para o meu crescimento. Ou não. Vou lidar com isso mais tarde.


Só não quero que desistir de alunos vire uma rotina. Isso seria o fim.


Conhecimento é Conquista -FS

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