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  • Foto do escritorFelipe Schadt

Como cachorros


Venezuelanos refugiados no Brasil pedem por emprego e ajuda para comer (UNODC)

Em 1925, Friedrich Schadt, desembarcava no porto de Santos com outros milhares de alemães e filhos de alemães com a esperança de uma vida nova (1). Vieram para cá pois a vida na Alemanha não estava fácil: fome, desemprego e inflação de 29,5 mil porcento ao mês, causados pela derrota da Primeira Guerra Mundial (2).

Cidadãos de Picaraima atearam fogo no acampamento dos refugiados venezuelanos e expulsaram cerca de 1,2 mil imigrantes do país com ameaças e agressões

No Brasil da época, o número de desempregados chegaria a 20% da população urbana na década de 1930 (3) e, para os trabalhadores rurais que viviam do plantio do café, o crash de 29 deixaria uma situação ainda pior (4).


Friedrich Schadt conseguiu emprego mesmo com um cenário tão desfavorável. Constituiu família com Suzana Schadt (também imigrante) e cinco filhos: Benjamin, Pedro, Paulo, José, Margarida e Ricardo. Se estabeleceram na Vila Prudente, zona leste de São Paulo. Nunca sofreram por serem estrangeiros, nem mesmo quando o Brasil se aliou aos EUA contra a Alemanha na Segunda Guerra. Os Schadt nunca foram expulsos.


Nem os Adami, os Garcia, os Oliveira, os Pardini ou tantas outras famílias que encontraram no Brasil um refúgio. Entre 2000 e 2015, 3432 dos 5570 municípios brasileiros tiveram pelo menos um registro de imigrante internacional (5). Desde o século 19, o Brasil recebe imigrantes que buscam nas terras tupiniquins uma nova chance de viver, como foi o caso dos Schadt, dos Adami, dos Garcia, dos Oliveira, dos Pardini...


Mas não é o caso dos Manzol.


Em 2018, Yineth Manzol, atravessava a fronteira entre Brasil e Venezuela no estado de Roraima, junto com outros milhares de venezuelanos e filhos de venezuelanos com a esperança de uma vida nova (6). Vieram para cá pois a vida na Venezuela não estava fácil: fome, desemprego e inflação estimada de 1 milhão porcento até o fim do ano (7), causados pelo governo Maduro e pelo isolamento comercial da Venezuela (8).


No Brasil de 2018, o número de desempregados chega perto dos 13% (9) e a economia não reage, pelo contrário, só vem caindo (10).


Yineth Manzol não conseguiu emprego num cenário tão desfavorável. Tem família de tês filhas: uma de 7, outra de 5 anos e uma de 10 meses. Se estabeleceu na cidade de Picaraima-RR, onde, graças a operação Acolhida do Exercito Brasileiro, pode se alimentar e se abrigar (11). Nunca imaginava ser expulsa... Mas foi.


Cidadãos de Picaraima atearam fogo no acampamento dos refugiados venezuelanos e expulsaram cerca de 1,2 mil imigrantes do país com ameaças e agressões (12).


Cantando o Hino Brasileiro, os moradores da cidade fronteiriça comemoravam quando, após perder tudo o que tinham, os venezuelanos cruzavam a fronteira de volta ao seu país de origem.


Diferente dos Schadt, dos Adami, dos Garcia, dos Oliveira, dos Pardini e de tantos outros imigrantes que pisaram no Brasil, os Manzol não terão a mesma história. "Eles nos expulsaram como cachorro", disse Yineth.


Pobre família Manzol. Mal sabe ela que por aqui, só se gosta de cachorros de raça e pedigree.


Conhecimento é Conquista -FS


P.s.: Felipe dos Santos Schadt, brasileiro e bisneto de imigrantes que não foram expulsos do Brasil. E se seu sobrenome também descende de um imigrante, lembre-se, você só está aqui porque seus antepassados não foram expulsos do país.


Fontes:

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