
> Eu pensei que era mais um defeito do aplicativo. Fechei ele e o abri novamente. O tal do defeito ainda estava lá, estragando um projeto que eu tenho há anos: o mosaico do meu feed no Instagram.
A grade do feed mudou o formato das fotos e isso desvirtuou todo o mosaico que eu havia construido graças a uma atualização - que ninguém pediu - da rede social. Eu fiquei devastado, xinguei no X (o Twitter do Elon Musk), no Threads (o Twitter do Zuckerberg) e nos meus stories o fim de uma era para mim.
E antes que você você julgue o meu chilique, saiba que não é só pelo feed do Instagram.
Câmbio!
...
Eu já era um fã incontestável de Dan Brown. Já tinha lido "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios" mais de uma vez e, a cada lançamento do autor, eu logo comprava o livro e devorava em questão de dias (em alguns casos, horas). Se J.K. Holling fez de mim um leitor, Dan Brown me fez querer ser um escritor. Eu admirava o cara.
Demorei um pouco, mas segui o Dan Brown no Instagram e me apaixonei pelo seu feed. Ele fazia um mosaico com artes incríveis e se você quisesse saber o que ele tinha postado, tinha que clicar na imagem e arrastar para o lado para saber sobre o que ele havia publicado. Coisa de gênio para quem escreve sobre mistério e códigos.

Não demorei nada para copiar o seu estilo e desde 2018 eu me dediquei a deixar meu feed tão interessante quanto o do meu autor favorito do momento. Estreei com a minha viagem para Holanda e França e fiz dois mosaicos representando Amsterdã e Paris. Ficou meio capenga, pois eu não escolhi fotos em alta resolução, resultando em uma imagem ruim quando clicada.
Aos poucos eu ia aprendendo como fazer, mas em tese era bem simples. Escolhia uma imagem bacana em um aplicativo chamado Unsplash que reúne imagens em alta resolução de forma gratuita com todos os direitos. Então eu abria o Photopea, um site que emula perfeitamente o Photoshop, e lá eu dividia a imagem em pedaços iguais de 1080 x 1080 pixels, o formato do feed do instagram desde sempre.
Então, para eu postar qualquer coisa no instagram, eu tinha que ter o mosaico já definido e recortado para usar cada parte como capa. Muitas vezes deixei de postar algo na hora por não ter a capa preparada, o que me fazia já planejar minhas postagens com bastante antecedência.
Eu me divertia em todo o processo e amava ver meu feed arrumadinho e diferentão. Além, claro, de ser classificado por mim como o feed mais bonito do Instagram, já que o Dan Brown abandonou a prática em dezembro de 2022. Mas tudo isso estaria perto do fim a partir de ontem...
Eu estava no bar com a Carol tomando uma cervejinha para encerrar a semana quando resolvo conferir meu instagram. A minha companheira pensou que alguém tinha morrido, mas na verdade se tratava do meu feed completamente desajustado por causa da atualização do Instagram. Eu fiquei muito chateado e não demorou muito para eu dividir minha frustração com todo mundo. Recebi algumas mensagens que compadeceram da minha dor e eu entendia ali que todo o meu trabalho milimetricamente pensado, não resistiria aos avanços virtuais.
Mas minha indignação só aumentaria quando eu fui procurar mais informações sobre a maldita atualização. Cheguei em uma notícia que fez tudo se encaixar como uma luva e comecei a pensar que não era só uma atualização ordinária que arruinou minha obra de arte.
Em 2024, a rede social da Meta já fazia alguns testes com o novo formato do feed, mas a atualização de fato começou a chegar para todos os usuários a partir de ontem (17). Li uma nota no site Techtudo, segundo Adam Mosseri, chefe da rede social, a alteração no modo de exibição dos conteúdos visa evitar que as mídias precisem ser editadas para se adaptar ao formato quadrado. Além da verticalização do feed do perfil, outras mudanças foram implementadas, como a nova posição do nome do usuário na página.
Ainda segundo o site, um representante da Meta disse em nota que: "Queremos dar às pessoas controle sobre como suas publicações aparecem na grade, por isso estamos introduzindo uma nova ferramenta de edição para que as pessoas possam ajustar as imagens no perfil para o novo tamanho".
O que me parece é que o Instagram está querendo se parecer mais com o TikTok. E isso já pode ser notado há algum tempo, a começar pela valorização que a rede social e seus algoritmos estão dando para os vídeos em detrimentos das fotos, carro chefe original do aplicativo.
Desde quando foi comprado por Mark Zuckerberg, em 2012, o instagram vem perdendo sua essência fotográfica para apostar nos vídeos. Além disso, as mudanças no formato da rede social sempre foram pautadas pelo sucesso de outras redes. Em 2013, muitos rumores surgiram dizendo que o dono do Facebook tentou comprar o Snapchat, famoso aplicativo de fotos e vídeos que desapareciam 24 horas depois de serem publicados. Em 2016, depois de outra tentativa de compra frustrada, segundo os rumores da época, o Instagram inaugurou o Story, ferramenta idêntica ao Snapchat, que acabou ficando no underground da internet.
Outro exemplo disso foi com a criação do Threads, mais recente rede social da Meta que imita exatamente o que o principal produto de Elon Musk, o X (antigo Twitter), sempre fez. Quando Zuckerberg dá a sorte de comprar a rede que quer, ela entra para o grupo Meta, quando não consegue, ele cria uma nova rede social igualzinha para chamar de sua. É um modus operandi muito escancarado.
Já a rede social que Zuckerberg não tem nenhum domínio é o TikTok. O aplicativo de vídeos é de propriedade da empresa chinesa de tecnologia ByteDance e foi criado em 2016 para ser um espaço de vídeos curtos. Em um ano, recebeu cerca de 100 milhões de usuários. Nos EUA, hoje, o aplicativo chinês tem 170 contas ativas.
Na mesma sexta-feira (17), vulgo ontem e vulgo o dia que meu feed do Instagram foi destruído pela atualização, a Suprema-Corte dos EUA determinou que ou a ByteDance vende o TikTok para empresas americanas ou o aplicativo será banido do país. A justificativa dos juízes é que os algoritmos da rede social são de domínio chinês, o que pode representar uma ameaça à segurança nacional.
Trocando em miúdos: os EUA querem o domínio do TikTok para poder influenciar os mais de 170 usuários do aplicativo do mesmo jeito que fazem com os usuários do X de Musk e da Meta de Zuckerberg. Sem o controle do TikTok, o governo - ou quem quer que seja - fica completamente à mercê do que os algoritmos da rede chinesa podem fazer, uma vez que ela é de longe a que mais cresce na terra do Tio Sam.
Vale lembrar que a resistência a releição de Trump ocorreu muito graças a movimentações que ocorreram no TikTok. Em 2020, fãs de K-pop se organizaram no aplicativo para confirmarem presença em um comício gratuito em Tulsa, do então candidato Donald Trump. Com os ingressos esgotados por esses fãs, os trumpistas não conseguiram ir e o evento ficou esvaziado. A intenção dos usuários do TikTok era justamente essa.
Quem vai decidir se o TikTok fica ou não ativo nos EUA será o próximo presidente eleito, justamente Donald Trump. Ele toma posse agora dia 20 e já disse que tomará uma decisão, são não sabemos qual. A julgar pelos últimos acontecimentos envolvendo a aproximação de Mark Zuckerberg com a agenda trumpista e o "casamento" quase que vulgar entre Musk e o presidente, Trump não facilitará as coisas para a rede social chinesa e uma sonhada venda do TikTok pode ser o caminho. Comprador tem pelo menos dois.
O que me faz pensar que não é nenhuma coincidência o Instagram querer se parecer tanto com o TikTok no formato. O feed agora tem imagens retangulares, exatamente como o aplicativo das dancinhas. Além disso, os Reels - uma imitação escancarada do TikTok - ganham cada vez mais força dentro do Instagram e os produtores de conteúdo migram cada vez mais para esse formato de postagem.
Resumindo a ópera: o Instagram está pronto para substituir o TikTok e fazer com que os 170 milhões de usuários não sintam falta da rede social da ByteDance. Com isso, o TikTok pode ser bloqueado, sai de cena, cai no esquecimento e o controle sobre o consumo de informações dessas pessoas fica nas mãos da Meta, consequentemente, de Donald Trump.
Eu estou indignado e não é só pelo feed do Instagram.
Câmbio, desligo!
Conhecimento é conquista.
-FS
P.s.: Em tempo: essa história toda realmente me motivou a dar um tempo do Instagram (e outras redes sociais). Nós não temos domínio sobre elas em quase nada, tudo é decidido por nós (como devemos postar até o que vamos consumir). Somos meros inquilinos em um prédio sem síndico e cheio de câmeras. Por isso gosto aqui do meu blog. Sinto que ele é muito mais meu do que minhas redes sociais são. Sinto que aqui tenho um domínio maior, uma liberdade maior... É certo que não tenho a audiência que um Instagram da vida me dá, mas sinceramente, acho até melhor. Papo para outro dia.

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